
Mesmo sem chamar tanta atenção no dia a dia, o transporte de cargas está por trás de praticamente tudo o que consumimos, produzimos ou movimentamos.
Do agronegócio às farmácias, dos e-commerces às obras de infraestrutura, manter a circulação de mercadorias é essencial para o funcionamento da economia brasileira.
E é justamente por isso que compreender o cenário logístico do país — seus modais, gargalos e oportunidades — é tão importante.
Apesar de sua relevância, o transporte de cargas no Brasil enfrenta diversos desafios estruturais, tecnológicos e operacionais.
Grande parte das rotas depende exclusivamente do modal rodoviário, sujeito a problemas como infraestrutura precária, altos custos operacionais e risco elevado de perdas, roubos e sinistros.
Além disso, modais complementares como ferroviário, aéreo e hidroviário ainda são subaproveitados.
Neste conteúdo, vamos contextualizar a realidade do setor, apresentar os principais modais utilizados no país e destacar os problemas mais relevantes enfrentados por empresas, transportadoras e operadores logísticos no Brasil de hoje.
Quais são os principais modais de transporte de cargas no Brasil?
O sistema logístico brasileiro utiliza diferentes modais de transporte. Cada um possui características específicas, sendo mais adequado para determinados tipos de cargas, distâncias e regiões.
Modal rodoviário
Desde os anos 1920, as rodovias brasileiras são as principais rotas utilizadas para o escoamento de cargas.
Seja pela capilaridade ou flexibilidade ou por ser um transporte ideal para a movimentação de cargas de curta a médias distâncias, o transporte rodoviário representa mais de 60% da carga transportada no país.
Inclusive, é o meio que chega a cidades e lugares mais afastados, fazendo com que empresas invistam no modelo para expandir a logística do deslocamento das mercadorias.
Principais desafios do modal rodoviário: custo elevado com combustível, pedágio, manutenção de frota, acidentes e insegurança nas estradas, congestionamento – especialmente em grandes cidades, infraestrutura rodoviária precária e impacto ambiental pela emissão de poluentes na atmosfera.
Uma pesquisa publicada pela CNT (Confederação Nacional de Transportes) no ano passado apontou que 7,5% das estradas estavam em ótimas condições; outros 25,5% foram consideradas em boas condições; 40,4% estavam em condições regulares; e 26,6% correspondiam a condições ruins ou péssimas.
Modal ferroviário
Intrinsecamente ligada à história e ao desenvolvimento econômico do Brasil, o transporte de cargas via ferrovias teve o seu momento de ouro entre os séculos XIX e XX.
O modal perdeu o brilho para o investimento do deslocamento de mercadorias entre as rodovias desde a metade do século 20. Porém, as linhas férreas vêm ganhando espaço novamente com o ganho de recursos do governo federal e do setor privado para modernizar e expandir o setor.
Em 2024, o transporte ferroviário de cargas bateu recorde de cargas transportadas com mais de 540 milhões de TU (tonelada útil tracionada), sendo o maior dos últimos 19 anos.
Essa modalidade de transporte é caracterizada por ser mais econômica e é comumente utilizada para escoar cargas pesadas e de longa distância.
A baixa emissão de gases de efeito estufa e o baixo índice de acidentes e de roubo de cargas são algumas das vantagens do escoamento nesse modal.
Principais desafios do modal rodoviário: falhas mecânicas podem interromper o transporte e gerar atrasos, a malha ferroviária possui rotas limitadas e, por ora, a infraestrutura é precária e dependente de outros modais para complementar a logística de distribuição.
Modal aéreo
Caracterizada pela rapidez na entrega, o modal aéreo de transporte de cargas é o mais eficiente entre as modalidades mais utilizadas no país.
O modal permite que as mercadorias sejam transportadas para lugares remotos, facilita o rastreamento das cargas do embarque ao desembarque e provê mais segurança em comparação aos outros modais.
Principais desafios do modal aéreo: o transporte aéreo é geralmente o mais caro dos modais, devido aos elevados custos de combustível, manutenção e infraestrutura, possui limitações de peso e volume de carga, pode atrasar entregas devido às condições climáticas e é considerado uns dos setores mais poluentes.
Modal hidroviário (fluvial/marítimo)
O transporte de carga hidroviário — também chamado de transporte fluvial ou aquaviário — tem um papel estratégico no Brasil. Ele conecta regiões produtoras aos portos e centros de distribuição, principalmente em áreas de difícil acesso, onde outros modais enfrentam limitações.
As hidrovias representam uma alternativa eficiente e sustentável para o escoamento de grandes volumes de carga, sendo especialmente relevantes para o transporte de commodities agrícolas.
Desde 2019, o modal vem desempenhando um crescimento estruturado e recordes seguidos de mercadorias transportadas pelas águas, tendo movimentado mais de 1,32 bi de toneladas em 2024.
Principais desafios do modal hidroviário: entre os demais modais apresentados neste artigo, é o meio mais lento, não sendo ideal para o escoamento de produtos perecíveis, por exemplo. Assim como o transporte aéreo de carga, o modal fluvial também é vulnerável às condições climáticas.
Problemas estruturais do transporte de cargas no Brasil
Além das particularidades de cada modal, o transporte de cargas brasileiro enfrenta problemas estruturais mais amplos:
► Falta de integração entre modais (logística intermodal ainda incipiente);
► Burocracia e complexidade tributária no transporte interestadual;
► Infraestrutura defasada: estradas em más condições, falta de terminais intermodais e investimentos concentrados;
► Risco logístico elevado: roubos de carga, acidentes, atrasos e perdas;
► Baixa digitalização de processos: ainda há muitos entraves operacionais manuais.
Esses desafios impactam diretamente o custo dos transportes no Brasil, gerando ineficiências na cadeia de suprimentos, aumento de preço final ao consumidor e menor competitividade para empresas nacionais.
Por que o transporte de cargas é um tema estratégico?
O transporte de cargas é um componente essencial da cadeia produtiva e logística, conectando fornecedores, indústrias e consumidores finais.
Sua eficiência influencia diretamente os custos operacionais, os prazos de entrega, a qualidade dos produtos e a competitividade das empresas no mercado.
Portanto, um sistema logístico mais eficiente permite que haja:
● Redução de custos operacionais;
● Agilidade no escoamento da produção;
● Expansão para mercados internacionais;
● Melhoria na qualidade do serviço ao cliente;
● Maior previsibilidade e controle de riscos.
Empresas que atuam com transporte, distribuição ou armazenamento de cargas devem entender as limitações atuais do setor e, mais do que isso, buscar formas de adaptar seus processos com tecnologia, gestão de risco e planejamento estratégico.
Conclusão: um setor que precisa de atenção, estratégia e inovação
O transporte de cargas no Brasil é vital para o desenvolvimento do país, mas ainda carrega um legado de desafios históricos.
Para mudar esse cenário, é preciso ir além da infraestrutura: é necessário pensar o transporte como parte de uma cadeia integrada, com mais tecnologia, menos burocracia e foco total em eficiência.
Seja você gestor logístico, embarcador ou profissional do setor, acompanhar essas transformações é o primeiro passo para tomar decisões mais seguras e sustentáveis dentro da sua operação.