O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro desde 1992, foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas com o propósito de promover reflexão, mobilização social e fortalecimento da dignidade dessa população. Mais do que uma data simbólica, ela é um marco global que impulsiona políticas públicas, amplia debates e reforça o compromisso coletivo com a inclusão.
Neste artigo, vamos explorar o que significa falar em deficiência hoje, como a acessibilidade se conecta diretamente à saúde e ao bem-estar, e por que todos nós, com ou sem deficiência, temos um papel essencial nessa transformação.
O que significa deficiência hoje? Uma nova forma de compreender o tema
A partir da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD/ONU, 2006), o conceito de deficiência mudou profundamente.
Deixou-se de olhar apenas para características individuais e passou-se a entender que: A deficiência surge da interação entre a condição da pessoa e as barreiras do ambiente.
Ou seja: a limitação não está apenas no corpo ou na mente, mas nas estruturas sociais, físicas e culturais que restringem participação, autonomia e acesso.
Exemplos de barreiras que geram deficiência:
Falta de rampas, elevadores ou piso tátil
Sites e documentos sem acessibilidade digital
Transporte público inadequado
Comunicação sem Libras ou audiodescrição
Atitudes preconceituosas
Assim, falar sobre deficiência é falar sobre sociedade, políticas públicas, inclusão e direitos humanos.
Acessibilidade e saúde: uma relação direta
A saúde, segundo a OMS, não é apenas ausência de doença, mas um estado completo de bem-estar físico, mental e social.
Para pessoas com deficiência, esse bem-estar só é possível quando o ambiente permite:
Autonomia
Segurança
Acesso a serviços
Participação social
Condições adequadas de trabalho
Informação acessível
Hoje, apesar dos avanços, muitas pessoas ainda enfrentam obstáculos cotidianos — desde dificuldade para se locomover até falta de adaptações nos ambientes de trabalho e nas unidades de saúde.
Essas barreiras impactam diretamente a saúde mental, aumentam os riscos físicos e prejudicam a qualidade de vida.
Capacitismo: a barreira invisível que precisamos combater
O termo capacitismo define atitudes, práticas ou estruturas que discriminam pessoas por sua capacidade física, intelectual ou sensorial.
É um dos fatores que mais limita a inclusão real, pois reforça estigmas e impede a construção de ambientes acolhedores.
Exemplos de capacitismo:
Presumir que uma pessoa “não consegue” sem perguntar
Tratar adultos com deficiência como crianças
Ignorar a presença da pessoa e falar apenas com acompanhantes
Assumir que deficiência significa incapacidade
Fazer “elogios” que, na prática, reforçam preconceitos (“nossa, você é tão especial!”)
Além de prejudicar a convivência, o capacitismo reduz o reconhecimento da experiência do outro e enfraquece oportunidades sociais e profissionais.
Importante: capacitismo é crime
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI — nº 13.146/2015) estabelece que:
“Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” é crime.
E não se trata apenas de insultos ou agressões. A LBI também considera discriminação:
Negar acessibilidade
Recusar adaptações razoáveis
Criar ou manter barreiras estruturais
Impor tratamento desigual
A Lei Brasileira de Inclusão: avanços e responsabilidades
A LBI é o principal marco legal de proteção às pessoas com deficiência no Brasil.
Ela assegura direitos em áreas como:
Saúde
Educação
Trabalho
Mobilidade urbana
Participação política
Cultura e lazer
Tecnologia e acessibilidade digital
No ambiente de trabalho, a lei vai além do sistema de cotas: exige adaptações, acessibilidade desde o recrutamento e garantia de condições iguais de desenvolvimento profissional.
Ela não serve apenas para punir: a LBI é uma ferramenta para construir uma sociedade mais justa, diversa e acessível.
Por que este dia importa para todas as pessoas e não apenas para quem tem deficiência
Falar de inclusão não é apenas reconhecer a existência da pessoa com deficiência, mas atuar para reduzir barreiras e promover participação plena.
Isso envolve:
Ouvir e respeitar diferentes vivências
Questionar práticas e ambientes excludentes
Usar linguagem adequada e inclusiva
Incentivar acessibilidade no trabalho e nas relações
Promover mudanças diárias no convívio social
Inclusão é uma prática ativa, um compromisso contínuo de empatia e responsabilidade coletiva.
Inclusão na prática: pequenas atitudes que transformam ambientes
1. Pergunte, não presuma
Antes de ajudar, pergunte se a pessoa quer ajuda.
2. Adapte sua comunicação
Fale diretamente com a pessoa. Respeite o tempo dela. Use recursos acessíveis quando necessário.
3. Defenda acessibilidade
Rampas, legendas, contraste, Libras, pisos táteis e ajustes no trabalho deveriam ser padrão, não exceção.
4. Reavalie expressões e atitudes
Evite frases capacitistas e brincadeiras que reforcem estereótipos.
5. Consuma conteúdo produzido por pessoas com deficiência
Aprender com quem vive a experiência é fundamental para evoluir.
Inclusão é escolha diária e começa com cada um de nós
Ser inclusivo é reconhecer o valor da diversidade humana e entender que todo corpo, mente e trajetória merece dignidade e pertencimento.
Quando acolhemos o outro, criamos relações mais empáticas, ambientes mais seguros e uma sociedade mais justa.
A mudança não começa nas leis, começa no olhar, no gesto e na atitude de cada pessoa.Que este 3 de dezembro inspire não apenas reflexões, mas ações concretas e contínuas, porque acessibilidade não é favor: é direito. E inclusão, acima de tudo, é humanidade.