Bipolaridade – Mitos e fatos

O transtorno bipolar é uma alteração mental grave com causas biológicas, neuroquímicas e psicossociais em que existe uma alteração de humor, onde a pessoa apresenta uma alternância de períodos de depressão em que há uma tristeza profunda, até períodos de euforia extrema (mania ou hipomania). Atinge cerca de 4,2 milhões de brasileiros — segundo dados da Organização Mundial de Saúde.

O dia 30 de março é considerado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar. A data tem por objetivo chamar a atenção mundial para os transtornos bipolares, eliminar o estigma social e levar informação à população, educando e sensibilizando para a doença, que representa um desafio significativo para pacientes, profissionais de saúde, familiares e comunidade.

A causa exata do transtorno bipolar ainda é desconhecida. No entanto, estudos sugerem que o problema pode estar associado a alterações em certas áreas do cérebro e nos níveis de vários neurotransmissores, como noradrenalina e serotonina. Esse desequilíbrio reflete também uma base genética ou hereditária para o transtorno, além das causas associadas aos fatores ambientais e sociais, como: eventos estressantes, traumáticos ou perdas significativas, uso e abuso de álcool e drogas.

Segundo a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos), o transtorno bipolar afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo, tanto homens quanto mulheres, podendo começar no final da adolescência ou no início da idade adulta, quase sempre antes dos 30 anos, com mais frequência entre 18 e 25 anos. 50% dos portadores da doença tentam o suicídio pelo menos uma vez na vida e 15% realmente se suicidam.

De acordo com o DSM.IV e o CID-10, (manuais internacionais de classificação diagnóstica), o transtorno bipolar pode ser classificado nos seguintes tipos:

  • Transtorno bipolar tipo I: o portador apresentadistúrbio de humor em que se verifica a ocorrência de pelo menos um episódio maníaco, que dura pelo menos sete dias, que pode ter sido precedido ou sucedido de episódios hipomaníacos ou depressivos (que se estendem de duas semanas a meses).
  • Transtorno bipolar tipo II: o portador apresenta distúrbio de humor recorrente, constituído por um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco ((estado mais leve de euforia, excitação, otimismo e, às vezes, de agressividade), sem prejuízo maior para o comportamento.
  • Transtorno ciclotímico: o portador apresenta distúrbio de humor flutuante, envolvendo períodos com sintomas hipomaníacos e períodos com sintomas depressivos leves, que podem ocorrer até no mesmo dia.
  • Transtorno bipolar não especificado ou misto: os sintomas sugerem o diagnóstico de transtorno bipolar, mas não são suficientes nem em número nem no tempo de duração para classificar a doença em um dos dois tipos anteriores.

Os sintomas de transtorno bipolar dependem da fase de humor que a pessoa apresenta, e podem variar entre episódio maníaco, depressivo ou ambos:

  • EPISÓDIO MANÍACO: sensação de extremo bem-estar; aceleração do pensamento e da fala; agitação e hiperatividade; diminuição da necessidade de sono; aumento da energia; diminuição da concentração; euforia ou irritabilidade; desinibição; impulsividade; ideias de grandiosidade e sensação de “poder.
  • EPISÓDIO DEPRESSIVO: alterações de apetite com perda ou ganho de peso; humor deprimido na maior parte dos dias; fadiga ou perda de energia; apatia, perda de interesse ou prazer; pensamentos recorrentes de morte ou suicídio; agitação ou retardo psicomotor; sentimento de culpa ou inutilidade; desânimo e cansaço mental; tendência ao isolamento tanto social como familiar; ansiedade e irritabilidade.

Em crianças e adolescentes, os sintomas são os mesmos, porém podem ser confundidos com falta de educação, birra, agressividade, irritabilidade, falta de motivação, mau humor, tristeza ou muita energia, animação e ansiedade e isso acontece porque geralmente eles têm dificuldades em se expressar e nomear as próprias emoções ou por acharem que estas características são típicas da fase da adolescência.

O diagnóstico é clinico, baseado no levantamento da história e no relato dos sintomas pelo próprio paciente ou por um amigo ou familiar, através de exames físicos e avaliação de saúde mental. Em geral, costuma ser muito difícil, as pessoas levam em média 10 anos para serem diagnosticados com transtorno bipolar. A falta de conhecimento, a confusão dos sinais e sintomas com os de outras doenças, o preconceito e a estigmatização sobre esse transtorno do humor são os principais motivos que levam à demora.

O transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado com a realização de vários tipos de tratamentos, que incluem a utilização de medicamentos prescritos pelo psiquiatra, realização de psicoterapia, além das mudanças do estilo de vida – desenvolvimento de hábitos mais saudáveis (boa alimentação, prática de atividade física, sono e redução do estresse), além do fim do consumo de substancias psicoativas (café, álcool, drogas).

A família é uma base importante para o portador do transtorno bipolar, por este motivo, também pode precisar também de acompanhamento psicoterápico, por duas diferentes razões: primeira, porque o distúrbio pode afetar todos que convivem diretamente com o paciente; segunda, porque precisa ser orientada sobre como lidar no dia a dia com os portadores do transtorno.

É importante ressaltar que o paciente diagnosticado com o transtorno bipolar não deve interromper o tratamento. É necessário que o faça de maneira adequada para evitar e prevenir a instabilidade emocional e a recorrência das crises, o que assegura a possibilidade de levar vida praticamente normal; além de evitar o consumo de bebidas alcoólicas e drogas.

O preconceito em relação às pessoas que sofrem de transtorno bipolar deve ser combatido e a condição deve ser desmistificada e discutida mais abertamente. Muitas vezes, o preconceito ou o estigma podem afastar os pacientes na busca de um tratamento ou até mesmo os familiares que podem negar a doença de seus entes queridos, por receio do olhar dos outros.

REFERÊNCIAS:

https://bvsms.saude.gov.br/30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar/

https://www.abrata.org.br/saude-mental/depressao-e-transtorno-bipolar/

https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-bipolar-2/